quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Êxtase da Beata Alexandrina de Balasar, no Natal de 1953

25 de Dezembro de 1953 – Sexta-feira




Como se sofre! Poderei ainda sofrer mais? Perdoai-me, Jesus. É um desabafo atrevido. Não sou eu quem sofre, sois Vós o sofrente, sois Vós a vencer em mim. Ajudai-me, Jesus, ajudai-me, não posso levantar-me, estou caída, só Vós podeis deitar-me a mão. Ai de mim, tantas maldades que eu tenho! É um mundo delas, um mundo dos maiores vícios e crimes. Todo o meu ser se desfaz com a lepra do pecado. Ventania destruidora leva as cinzas de todo o ser. Só o pecado fica, só este aparece. São sem número os espinhos a ferirem-me, são indizíveis os meus sofrimentos. Mas a inutilidade, a tremenda inutilidade, tudo me vem roubar, toma conta do fruto de tanto sofrer. Eu, pobre de mim, nem ao menos vejo nascer aquilo com que podia pagar as minhas dívidas ao Céu e consolar o meu Jesus. Cruel, cruel inutilidade, pavorosa, pavorosíssima eternidade. Só a força de Deus pode sofrer nela, só Jesus nela pode viver. Não posso, não posso sozinha resistir nem um momento. Já estou mais que sepultada, mas continua o meu ofício de cavador. Os suores da alma a banharem-na constantemente e a cavação mais parecem cavadelas eternas do que outra coisa. Mas sinto que esta minha cavação tem de continuar, o meu sepulcro tem de abrir-se no maior abismo, terra sobre terra ma vai cobrindo, eu mesma me enterro. É com o meu esforço que hei-de desaparecer. Como, meu Senhor, enterrar-se, desaparecer aquilo que já não existe? Bendito sejais, bendito sejais! Sou a Vossa vítima. Nuns momentos, sofro infinitamente ânsias verdadeiramente infinitas de amar a Jesus e de possuir o mundo. Nesses momentos, é infinita a fome que tenho no coração. Só a humanidade com todos os corações e almas me podiam satisfazer. Noutros momentos, nem fome, nem ânsias de amar nem de ser amada, mas uma tristeza, um gelo tal que gela o mundo e me leva à indiferença, ao completo esquecimento das coisas de Deus. Daqui nasce uma dor tão profunda e tão dolorosa que não é minha. Jesus faz-me sentir bem ao vivo que é a dor do Seu Divino Coração. Não disse nada, nada posso dizer. Sofro tanto, tanto! Passei pelo horto só como se voasse nele sem poisar na terra. Eu não pertencia à terra, a minha vida não era da terra.
Preparei-me para o nascimento de Jesus por um acto de contrição; não pude confessar-me. À meia-noite pedi-Lhe que Ele nascesse no meu coração e em todos os corações. Fiz-Lhe muitos pedidos, mas tudo feito na inutilidade e na eternidade. Fiz-Lhe companhia no presépio, no calvário e no horto, mas tudo inútil, numa agonia e tristeza mortal. Hoje, segui para o calvário, mas esvoaçando apenas sobre os caminhos do calvário e no calvário sobre os braços da cruz. Era do Céu a minha vida, mas penetrava em todo o ser humano, em todos o ser miserável. Enquanto Jesus agonizava, esvoaçava sempre essa vida nos braços da cruz. Fitava Jesus crucificado e formava voo para o Seu Divino Coração. Outra vida, a vida da terra atirava-se para Jesus a escarnecê-Lo, a escarrá-Lo. Ele deu a vida, entregou-se nas mãos do Pai, e eu fiquei sem nenhuma vida, nem de revolta, nem de amor. Jesus não teve pressa em vir ao meu coração e fazer-me ressuscitar. Quando veio com a Sua luz, iluminou-me e falou-me assim:
― “Desci do Céu e aqui estou pela última vez no coração da minha esposa para pelos seus lábios falar. Desci do Céu e vim a este c oração deixá-lo em dor, dor, mais dor pelos pecadores. Grande sábio, a maior ciência tem aquela alma que por Jesus sabe sofrer. Grande ciência, a maior ciência é amar muito e muito sofrer. É a ciência que Eu busco, é a ciência que Eu anseio. É rara, tão rara, quase nunca a encontro. Colóquio das almas, colóquio dos pecadores, o último colóquio das almas, o último dos pecadores. Coragem, minha filha, coragem! Venho dar-te o meu Sangue divino. Venho dar-te o alimento que te faz viver. Vive da fé, só da fé. Eu não deixo de confortar-te, quando preciso for. De longe a longe ouvirás, esposa minha, as palavras do teu Jesus. é dor, é dor, inigualável dor, mas o triunfo, o número das almas a salvar-se é maior ainda, maior ainda, maior ainda, florinha eucarística. Sofre, sofre, esposa querida, atrai a Mim os pecadores. Atrai a Mim os pecadores; tu que és o íman atraente atrai-os a Mim, atrai-os a Mim”.
(Cantou):


Vem, filho meu, vem, filho meu, vem, filho meu, vem ao meu Coração de Pai;
Vem, filho meu, vem, filho meu, ao meu Coração de Pai!
Escuta bem, ouve o convite, ó filho meu;
Ouve o convite do teu Jesus, do teu Jesus e Pai, e Pai!
Vem, filho meu, vem, filho meu, não tardes mais;
Vem, filho meu, vem, filho meu, vem, filho meu, não tardes mais, não tardes mais!
Escuta a minha voz, voz dorida, voz dorida, voz sentida de profunda dor, profunda dor, profunda dor;
Filho meu, não peques mais; dor profunda, filho meu, não peques mais, não peques mais.


― Aqui estou, ó Jesus, aqui estou, meu Amor, arrependida, aqui estou, meu Amor, arrependida! Dá-me o teu amor, ó Jesus! Dá-me o teu amor, ó Jesus, e a cruz, e a cruz! Nunca quero deixar o teu coração! Quero amar-te, ó Jesus! Quero amar-te e pedir-te perdão, perdão. Perdão, Jesus, perdão, meu Pai. Perdão, Jesus, perdão, Senhor! Perdão, Jesus, perdão, Amor! Dá-me a tua cruz, ó Jesus. Dá-me a tua cruz, ó Amor. Dá-me o teu perdão, dá-me o teu perdão, dá-me o teu perdão, dá-me o teu perdão.
― “Minha filha, minha filha, esposa querida, minha filha, grande vítima deste calvário, deste glorioso calvário. Minha filha, filhos meus, filhos meus, desce aqui a Santíssima Trindade. À direita do Filho vem a Mãe Santíssima. A primeira bênção da Santíssima Trindade é dada para o Santo Padre, para o representante do meu Filho bem amado. A segunda é dirigida ao meu querido Cardeal, ao meu querido Cardeal. Vai a terceira ao teu Prelado. Vai para ele, minha filha; todos se encham da Trindade divina, que todos se encham mais e mais da luz do Espírito Santo”.
― Ó Pai, ó Pai, ó Filho, ó Espírito Santo, ó Mãezinha querida. Ó Pai, ó Espírito Santo, ó Mãezinha querida, ó Mãezinha querida. Ó Pai, ó Filho, ó Espírito Santo, ó Mãezinha querida, não posso com tanta fortaleza.
― “Vai por ti, minha filha, uma nova bênção da Trindade Divina para aquele que Eu trouxe ao teu encontro, luz e guia da tua alma, para na mesma vida mística de sofrimento sangrarem os vossos corações, as vossas almas. Abençoo com o Pai, o Espírito Santo aqueles que têm amparado a tua alma, aqueles que têm cuidado do teu corpo, aqueles que têm defendido a minha divina causa como ninguém, como ninguém. A nossa bênção de Trindade Augusta para todos os que te são queridos”.
― Ó Jesus, ó Jesus, um bocadinho de espera. Os que me são queridos já sabeis quem entra. Começai outra vez, começai com o Pai, o Filho, o Espírito Santo. A bênção e o sorriso terno e meigo da Mãezinha querida para todos os que eu amo, para todos os que me são caros, para todos quantos me rodeiam. Ó minha Trindade Augusta, ó minha Trindade Augusta, para todos quantos me pedem orações, para todos os que necessitam delas. O mundo inteiro precisa da Vossa bênção. Ai, como hei-de ficar sem Jesus na minha cruz! Ai, como hei-de ficar sem Vós, Mãezinha!
― “Coragem, minha filha, coragem! Não ficas sem o teu Jesus, não ficas sem o teu Jesus. Não ficas sem a tua Mãezinha querida, a tua Mãezinha querida. Não podemos deixar-te, não podemos deixar-te. Repito, digo o mesmo que disse aos seus Apóstolos: “Vou para o Pai, mas fico convosco”. Finjo deixar-te para maior sofrimento, mas não te deixo, não, minha filha, não. Depois de me amares, depois de me dares almas aos milhões, aos milhões, depois de te abandonares inteiramente a Mim, como deixar-te?! Confia, confia que não!”
― Adeus, ó Pai, adeus, ó Filho, adeus, ó Espírito Santo, adeus, ó Espírito Santo. Adeus, ó Mãe querida, até ao Céu, até ao Céu, até ao Céu, ó Mãe querida, até ao Céu, até ao Céu, ó Mãe querida, até ao Céu, ó Mãe querida. Adeus, Jesus, adeus, meu Pai, adeus, adeus, Jesus. Adeus, Amor, sede comigo, sede comigo na minha dor, na minha dor. Não posso mais, ai, não posso mais, ó Mãezinha, ó Jesus. Um terno, um terno adeus de saudade, um terno, um terno, um terno adeus de saudade te dou hoje, ó Jesus, te dou hoje, ó Mãezinha da filha Vossa. Um terno, um terno adeus, adeus de saudade te dá hoje, ó Jesus, te dá hoje, a vítima tua. Um terno adeus, um terno adeus, ó Jesus, adeus, adeus, adeus, adeus, adeus até ao Céu, até ao Céu, até ao Céu, ó Amor meu, ó Amores meus, ó Amores meus!
― “Coragem, coragem! Confia, confia! Não é até ao Céu, não é até ao Céu, flor eucarística, flor mimosa, pupila dos meus olhos, lírio puro, branca açucena, não é até ao Céu, não é, minha esposa e virgem, ó minha vítima. Não é até ao Céu, não, ó minha esposa amada, digna dos títulos mais honrosos que Jesus pode dar a uma esposa e vítima imolada. Sou Eu, sou Eu a dar-te todos esses títulos. Preparei-te também, minha filha, com a minha sabedoria divina. Estás livre de toda a sombra de vaidade. Velarei por ti, velarei sempre. Velarei sempre até ao fim da vida como até aqui tenho velado. Coragem, minha filha. Fala às almas para quem foste criada. Fala às almas para quem foste escolhida. Tu és o porta-voz de Jesus, tu és o farol de luz, tu és o farol do mundo, que dás ao mundo luz divina, vida divina. Tu és minha, toda minha, ó esposa bela. Eu sou teu, teu, todo teu, sempre teu.
Recebe a gota do meu Divino Sangue. Fundidos os nossos corações num só coração. Espalhou-se o sangue. Já passou para as tuas veias. Corre com a maior abundância. Foi maior a dor, foi maior o alimento. Fica na tua cruz. Eu quero, eu quero que sejas amparada na tua cruz. Haja luz, faça-se luz, a última vez. Depressa, depressa, que já não é depressa a fazer-se a vontade do meu Divino Coração. Recebe mais uma efusão do meu amor, o amor de toda a Santíssima Trindade, o amor da tua Mãezinha querida. Fortalece-te, enche-te, enche-te. Mais amor, mais amor, mais amor para mais dor, para mais dor. Coragem, minha filha, coragem, minha filha, coragem”.
― Adeus, meus queridos amores, adeus, adeus, adeus. Vou deixar-Vos, vou deixar-Vos. Adeus, adeus, sede a minha força, sede a minha força, sede a minha força.
(Ouviu-se ruído de beijos)
Foi para mim a última bênção da Santíssima Trindade e da Mãezinha querida. Obrigada, obrigada, o meu eterno obrigada. Permiti-me, não me leveis a mal que eu a distribua toda, toda, toda por todos. Já sabeis por onde principio e onde eu acabo. Não me leveis a mal. Perdoai, perdoai.
― “Minha filha, minha filha, por despedida deste-Nos a maior consolação, a maior prova de amor, de amor, de amor às almas por amor de Nós. Oh! Como consolaste, como consolaste, oh! Como consolaste a Trindade Augusta e a tua Mãe celeste, a tua Mãezinha celeste!
Vai em paz. Fica na cruz. Fica na cruz! Coragem, coragem!”
― Adeus! Adeus! Obrigada! Obrigada!


Nota: este êxtase foi gravado e assistiram mais de 50 pessoas. Quase todas se comoveram e choraram. Um sacerdote presente disse: “Poucas vezes tenho chorado na minha vida, mas hoje chorei”.

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